neo odor
Tudo que me veio à cabeça foi vazar.Não lembro da hora, mas o momento foi marcante, muito pela indumentária da fada que rodeava meu cérebro.Tossidas profundas e o catarro que me rodeava as narinas me afogavam aos poucos.Fui no outro bar. Além do Catarina, cruzei o hediondo amigo Patcho (patcholi), que fedia além da minha compreensão nasal.Foi aí que tive a impressão de que um banho cairia bem.A barba não fiz por que a gilette era usada pelas diversas putas moradoras do muquifo.A meia ensangüentada do futebol me lascou os dedos, mas ignorei a dor.Tudo dependia daquela mixaria. Eu não me faria rogado em quebrar o escritório do ex-patrão mesmo que fosse para levar o Fax ou outro aparelho eletrônico que subtraísse a conta dos meus serviços.Meti o pé na mesa e, tirando o taco de beisebol do sobretudo, até eu me assustei com a cara do indivíduo.O Patcho pirou arrebentando primeiro o cara que era o maior do bar: Gilsão.Catarina, tradado como hitler jugend desde tenra infância, seus únicos amigos foram Hotweileirs. A mãe serviu-lhe comida até os 12 anos. Era tanto carinho que ele se sentiu atraído pela ração dos cães. Qualidade de vida para uns (os cães) e para ele o mesmo marmitex do mesmo restaurante diário. A ração era boa.15 anos devastando as florestas do centro-oeste brasileiro e, depois de trabalhar como escravo nos carvoeiros, para anular as intrigas, repensou:A vida é mais que tudo!E eu que só queira um pouco.Magoo
Como Música
Quase que instantaneamente, todas as vodkas derrubadas goela abaixo, sibilaram frases complexas até para um cérebro descansado.Tudo em volta merecia uma passada de olhos, mesmo que superficial.Nenhum acidente natural precipitou-se em obstruir os caminhos e mesmo assim tudo parecia latejar, ocupando cada vácuo da atmosfera.Sorriu ao olhar no relógio da placa da rodoviária: 5 da manhã e o caminho ainda estava sutilmente encoberto pela névoa intra-craniana.Cinza lavado pelo orvalho das substâncias madrugueiras vertiginosamente escravizadas, mesmo que temporariamente, pelo apego à elucidaçãoO prato de sopa de cincão era o único objetivo de manter-se vivo com o último fio de dignidade, apesar dos punhos e golas da camisa e do terno estarem desfiapados, se mantinham alvos como a pela da albina tocadora de trumpet do Bar da Polaca.Na verdade ela não tocava porra nenhuma . Carregava duas sacolas a tira-colo: uma com o trumpete e umas blusas, a outra cheia dum monte de chapéus.Ela tinha acabado de sair dum hospício, o que descobri logo após o sexto ou sétimo conhaque.Consegui dobrar minha maneira de enxergar, e, pegando-a pelo braço, escutei do outro lado do bar:- Porra, vai comer ou embrulhar?!Deu dó. Eu completamente empenhado em manter o equilíbrio ao dar os meus goles, empurrando um papo chulé totalmente desnecessário numa pobre alma desorientada.A Polaca riu, o barman riu, todos riram.A mina desmaiou. Tinha tomado os mesmos 10 conhaques que eu.Acabada de sair do hospício, resolvi dar-lhe/dar-me uma ajuda.Liguei prum táxi, mas acabou a bateria do celular.Tive que jogar nas costas e corri atrás de mais grana.Fui direto na casa de um amigo à meia-noite, mas tinha festa de família. Da esposa dele.Emprestei 50ão e fui pro hotel mais próximo.Ela sobreviveu.Eu sobrevivi.Nunca mais vi um adeus com céu tão azul.Magoo
sopé de orelha
Sobressalente os seios, a próxima atenção foi para os cabelos.Sedosos, cheirosos, cafunegantes, quase que uma passagem.Tomei-a de surpresa e fui longe demais ao puxá-los.A peruca escorreu rapidamente nas costas e libertou um ser desprovido de vaidade.Vomitando a cerveja e o risoto madalossense, pediu-me que a ajudasse.Dirigi ao local pré-determinado, não sem antes bater em dois carros parados.O serviço de quarto era uma ilusão. O porteiro ficou puto com os comentários.Peguei as cervejas do frigobar e saí fritando. Acabou a gasolina na quadra seguinte.Os gritos abafavam as minhas breves reprimendas em baixo tom._Você perdeu a peruca, mas a sua cabeça é a mesma.- disse eu.Catadores de papel estavam retornando para suas casas.O amanhecer mais ensolarado da minha vida virou um tormento.Magoo
primo do bem bom
Todos os ossos doeram.Graças ao projeto do primo do amigo do seu tio.Acabou de fazer o curso de web.Reunião, atravessadores, briefing, layout.Ficou perfeito.A esposa do cliente disse que deu uma olhadinha e achou melhor por o cabeçalho uns meio centímetro mais pra direita, se for vendo a tela do monitor de frente.Do lado, mais embaixo, mostra o telefone maior.Liguei. Ninguém atendeu.O primo do amigo do tio pegava a coroa palpiteira.Cada churrasco era a mesma putaria.Ele atendeu um dia e me convidou pra ir, dizendo que estava cheirosa.Tio bebum, tia gostosa, todo mundo passou o espeto no carnegão.Porra, só tinha Kaiser. Fiquei olhando.O amigo do tio era estranho. Suspeito até. Porém, arrepio de pensar no primo.Altas transas escabrosas. Com a tia dos outros, com o dinheiro também.Vendia órgãos e crianças.Magoo
inconsciente desavisado
deixe a intuição te levar
mas telefone antes
chegue mais perto
pra eu te expulsar
sem deslize
que na sequência vem rasteira
Magoo / V. Longo
infância fudida (da série Finalzinho do Mundinho)
o vizinho deu uma bala
os balões esvaziaram
as folhas cairam
as flores se fecharam
os carrinhos perderam a corda
as bonecas se descabelaram
o armário escuro é o refúgio
depois de tantos doces carinhos
Magoo
contatos desimediatos
cunho anti-social
fibrilação emocional
politicos atolados na merda
ninguem faz a coisa certa
só os ETs que às vezes aperecem
e as tetudas que a todos apetecem
estarão de alguma forma ajudando
os que de joelho ficam implorando
Magoo
Hereditariedade (da série Finalzinho do Mundinho)
ai paizinho
não me atire
pela janela
nem me encha
de balinhas
só por causa
de uma herancinha
Magoo
sambas de azar
queria fazer um samba
a cachaça tava no fim
o limão deixou-me em transe
saí de dentro de mim
pulei no murro
contra a minha sombra
apanhei tanto
que saí co'a cabeça tonta
auto-flagelo pra mim é ficha
de um palco de jogatina sem lucro,
tapa na cara não passa de lixa
perdi muito pra ganhar tudo.
Magoo
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